O céu está chorando

Parte 03 de 04

Não aguento mais o inverno que mal começou

Chove 5 minutos

Para durante 10 minutos

Repete.

Se deixo a janela aberta perco toda a mobília

Se fecho sinto calor e presa

Se ligo o ventilador morro de frio e perco a voz.

Tive hoje um dia bastante produtivo:

Deitada no sofá de moleton e calcinha, enrolada no edredom, alternando entre um livro, stalkear o Gustavo, tenta outro livro, stalkear a namorada perfeita do Gustavo, ler um post no BuzzFeed, stalkear o Fernando e todas as mulheres que comentaram algo dele na internet desde 2010.

Ainda to muito confusa com isso dele ter me beijado logo depois que terminei de contar meu “sonho” de viver em um filme de romance e 20 segundos depois me olhar assustado e pedir desculpas uma 50 vezes.

E agora a gente mal se fala

E as aulas não voltam tão cedo

E a gente nem é da mesma turma, afinal nem somos do mesmo curso.

Mais um amigo perdido. Parabéns, Manuela! Você provou ser incompetente demais para ter relações outras pessoas.

Eu deveria começar a tentar amizade com animais.

E voltar para terapia. Já que mesmo com 21 anos ainda tenho medo até do cachorro-anão da Isabela, do gatinho filhote da Ana.

E para eu aprender a parar de jogar a felicidade nos outros. Não é certo achar que só serei feliz se tiver outra pessoa, depender demais de alguém, cobrar demais de quem não tem nada a ver.

Com o dinheiro que minha mãe me manda e a bolsa que recebo dá para pagar. Eu amanhã mesmo vou procurar uma boa terapeuta e marcar uma consulta.

Eu deveria fazer várias coisas, mas agora só vou mentir para mim mesma e chorar por a vida não ser uma comédia romântica.

Surto da última madrugada

13/07/2015

2:50 AM

As vezes deitada no chão fico encarando o teto do meu quarto no escuro

Como nunca o enxergo por conta da iluminação (inexistente) acredito que esteja no infinito.

As vezes imagino que ele seria uma metáfora sobre eu e o amor

Eu sempre imagino o amor como algo que está estupidamente longe de mim, em algum lugar que nunca alcançarei

Porém é possível que ele esteja próximo, talvez tão próximo que eu conseguiria tocar com um esforço pequeno como pular na cama.

Normalmente prefiro que não seja assim

Me parece melhor ter o amor realmente distante em algum lugar que nunca chegarei que só precisar de um esforço mínimo que eu nunca farei.

No final não tenho certeza qual seria melhor.

Não tenho muitas certezas na vida

No momento talvez minha única certeza seja que eu preciso parar de encarar o teto já vai dar 3 da manhã

E que tenho que ir ao infinito e além.

A chuva continua a cair

Parte 02 de 04

Eu estava na sorveteria com minha amiga Manu. Ela estava sorridente tomando seu sorvete de ameixa e cantarolando alguma música dos anos 80. Enquanto eu tomava um milk-shake de chocolate e olhava para a rua. Me agrada bastante ver a chuva caiando sobre as flores no canteiro.

-Olha essa poesia que graça:

-eu olhei para o celular e li a poesia-

“Ingeriu constantemente

E por longos períodos

Amores nocivos.

Em seguida, absorveu

Demasiadamente Fernando Pessoa,

Causando abruptamente

O efeito de que

Se o seu coração pudesse pensar,

Pararia.

Este, por fim,

Pensou.”

-A sua cara – respondi

Ela ficou meio chateada com essa minha resposta

-É me falaram isso anteriormente.

-Entenda, não foi por mal. É que Pessoa é seu poeta preferido. Cê entende, né?

-Como cê sabe que é Pessoa e não Álvares de Azevedo?

-Por que eu acharia que é Azevedo?

-Por causa da minha

Eu não consegui prestar atenção no que ela falou, pois achei ter visto o Daniel que estudou comigo lá pelo início do ensino médio. Ele foi meio que meu primeiro amor, talvez não amor. Até hoje não sei ao certo o se era amor ou paixão ou só um sentimento bom de gratidão que eu tinha por ele não fazer piadas babacas.

-Da sua o que?

Voltei a prestar atenção na Manuela.

-Nada, Fê!

Ela me respondeu agitada.

-Eu realmente não ouvi.

E fiquei olhando o Daniel pelo espelho. Será que ele iria me ver? E se ele me ver vai me reconhecer? Virá até mim? Será que ele lembrará meu nome? Será que ele me esqueceu? Por algum motivo ridículo eu sempre desejei que ele nunca me esquecesse.

-Então deixe pra lá. Um dia você descobre.

-É um dia irei descobrir.

Ela apontou para o Daniel e disse:

-Bonitinho aquele moço ali, né? Eu sei que você é homem, mas o que é que tem um homem achar outro bonito, não é mesmo?

Eu achei aquilo bem estranho. Não só por toda ironia, mas também pelo Daniel não ser do tipo que chama atenção. Eu o descreveria como um nerd que você só percebe quão interessante ele pode ser quando o conhece. Não tão diferente da Manuela. Essa por sua vez não me deu nem a oportunidade de responder, pois não parava de falar.

-Ridículo, né, essa ideia de achar o amor em um lugar banal? Essa ideia de achar o amor.

E ela voltou a cantarolar “Will you recognize me? Call my name or walk on by?”

Vi o Daniel indo em direção a saída e consequentemente na minha direção. Tive um pânico daquilo e para que ele não me visse beijei a Manuela. Ela olhou para baixo com um sorriso tímido e continuo a cantarolar a música “Rain keeps falling, rain keeps falling down, down, down, down”.E eu voltei a olhar em direção a rua. A garoa continuava a cair e agora ela molhava o cabelo castanho claro do Daniel.